O nascimento da Nina :: Isabel
Pela primeira vez resolvi escrever um depoimento sobre o dia mais transformador da minha vida. E vou compartilhar com vocês. Eu que sempre fui tímida, “na minha”, resolvi dar mais esse passo libertador.
Esta prestes a completar quatro meses da minha cura. Período mágico, agora lembrando (em minha memória há uma aura de sonho), foi um mês de espera e despertar intensivos na companhia na minha eternamente amada amiga/comadre/irmã Denise que veio lá de Bauru, em um impulso doido que só fomos compreender depois.
Todo dia era dia, mas passavam dias, semanas e nada, a Nina não vinha. Ela estava me presenteando e eu nem sabia.
A espera seguiu por dias gelados, típicos aqui da serra, até que uma noite de névoa quente baixou na cidade, uma noite abafada, de um sábado aconchegante bom pra nenê nascer.
E nesta mesma noite, quando já não mais esperava me veio o recado dela: “Vou chegar!”
Denise que foi tão paciente durante um mês estava com sua passagem comprada para as seis da manhã do domingo, então a contagem era regressiva para que eu pudesse ter a tão desejada companhia dela durante o parto.
Eu que adoro cozinhar pra quem eu gosto, fui para cozinha e entre uma temperada e outra, rodeada de aromas, iniciaram-se as dores – dores suaves que só me alegravam.
Comemos! E bastante. Coloquei o Bento dormir (ele estava especialmente calmo esta noite), a rotina estava normal, afinal uma dorzinha assim é sinal que é só o começo.
Casa florida, perfumada, quente. Tomei um banho digno de mulher, com essências, velas, nunca fui tão vaidosa como estava sendo ao longo de toda a gravidez. A força da Nina já se fazia presente.
Fui acolhida por uma sala linda, rodeada de pessoas que amo: mãe (Tetê), meu amor Rafael e minha mais que irmã Denise. A trilha que preparei tocava ao fundo despertando a mais pura coragem e força ancestral. E veio, a força da vida mais uma vez me invocou. Desta vez mais preparada, corajosa e linda (sim, coisa rara, me sentia linda).
Quando chega A HORA a água nos chama e pra lá que eu fui, o ambiente era alaranjado, quente, úmido de puro aconchego, exatamente como o sonho (daqueles de quando a gente dorme mesmo) que havíamos tido.
E uma hora de transe se passou, isso que me foi informado. O tempo não existe. Senti forças e presenças que jamais conseguirei explicar, eram animais, eram pessoas, era pura proteção. Sentia que eu girava em uma enorme espiral ascendente e voltava. E também em forma de espiral fui curada, segurando ela em minhas mãos e fazendo as pazes com tudo que há na vida.
A sincronia que sempre acreditei foi perfeita (ela sempre é) e se mostrou mais uma vez presente, era 1:22 da manhã do domingo quando ela nasceu, a equipe médica mais humana que se possa imaginar da Caroline Chiarelli chegou quando tudo já havia acontecido – elas foram meus alicerces na gravidez, mas para o nascimento o destino escreveu assim.
Em seguida fizemos os preparos para o recolhimento, nos despedimos, eu e Nina, e todos estavam plenos com o sentimento de missão cumprida e pela certeza de termos compartilhado um momento muito especial juntos.
Sou rica, de experiências que não trocaria por nada. Me conheço e acredito mais em mim. Experiências anteriores, difíceis, foram presentes.
Mas a cura a Nina que me trouxe. E a gratidão é eterna.