O nascimento do Arthur :: por Lu Pereira
Published by Denise Cardoso on
Novembro 2016 4:30 manhã. Dia e hora em que confirmei o que eu já tinha certeza… um atraso de 12 dias em um ciclo super regular. Duas lindas listras… A certeza de um Parto Domiciliar.♥
Após as comemorações (entendedoras entenderão) voltamos a adormecer lindamente.
– Amor o bebê vai nascer aqui em casa!
– Como assim?
– Ué com uma parteira!
– Tá bom então…
Passei o dia com o tio Google buscando por “parteira” encontrei varias mais todas eram tãao tãao distantes da minha micro cidade.
Tempos depois encontrei a Denise Cardoso, nos falamos, achei até que ela não fosse querer nos atender pelo fato de não ter maternidade em nossa cidade. Fui falando com outras profissionais, mas a chamei novamente e, dessa vez, marcamos um encontro que levou uma tarde inteira sem que percebêssemos, que vibração maravilhosa senti. Uaal!! Sabe quando você olha uma pessoa e nela encontra o arquétipo da mãe ancestral? Foi assim! Ela parteira tradicional, nossa cara!
Fechamos no mesmo dia e a vida foi seguindo a amizade entre nós surgindo. Baby Love que eu não quis saber o sexo, mas tinha certeza ser menino, crescia em meu ventre.
Optei em fazer o pré- natal pelo sus, gravidez transcorria saudável, sem nenhuma intercorrência.
O PD (parto domiciliar) era segredo, até minha DPP (data prevista do parto) eu dei uma esticada, não estava a fim de gastar energia em vão, somente minha filha e irmã sabiam, eu mentia na cara dura dizendo que ia parir lá num sei onde kakaka.:-D
Mais uma vez uma sementinha germinando em meu ventre. Salve a mãe natureza!! Eu feliz que estava, queria mesmo era ostentar minha pancinha de grávida, amei as mudanças em meu corpo apesar dos típicos desconfortos da gestação, fui uma grávida linda!!
Com 20 semanas já sentia as primeiras contrações e assim foi até o fim da gestação.
Me peguei pensando em como iria identificar o inicio do meu TP (trabalho de parto) já que essa percepção me foi tirada quando minha filha nasceu. Foi tbm uma gestação muito saudável apesar de minha pouca idade, porém na ultima consulta recebi aquele toque básico (era ingênua), 39 semanas e 3 cm de dilatação, ouvi do GO (ginecologista obstetra) fofíneo que deveria ir para a maternidade pois a bebéia já iria nascer. Lá fui eu feliz me internar.
Pensava como assim já vai nascer e não tô titindo nada/? Deitava levantava, andava e nada. Ouvia muitos gritos de outras mulheres, sabia que se a gente berrasse seria maltratada então me “comportava”. Hoje sei se tratar de VO (violência obstétrica).
Até que as bonita das enfermeiras não contente em me ver sóbria me “amarram” na tal ocitocina C$#** Isso não é de Deus! Mas fui forte! Mesmo ali sozinha, mesmo sendo toda hora açoitada por dedos alheios, vencemos.
O parto não me causou medo, mas uma sensação de solidão me acompanhava.
Mais ou menos 7 horas depois grito.
– Aaaahh não tô aguentando! Hoje sei que era o tal círculo de fogo… veio uma enfermeira e disse: -Tá nascendo!! corre corre, opa, não esquece a episiotomia, sem pik não sai, né? /o\
Poucas forças nasceu! Nossos laços foram imediatamente cortados, sequer nos olhamos e ela se foi. Eu apenas a perseguia com os olhos, depois nos vimos rapidamente.
Como boas vindas recebeu todos os protocolos desnecessários para um bebê saudável. Minha coisinha pequena quanto amor.
GO fofíneo conversa comigo e eu achei legal, fim do parto, placenta nutridora no lixo, ele se despede dizendo que me espera no próximo ano, mais VO.
Seu primeiro alimento não foi meu leite mesmo com um apgar 09/10…
18 anos depois aqui estou, gestando novamente! Dessa vez sou mulher empoderada! Ninguém vai me enganar! Já havia aprendido o que era violência obstétrica e me senti bem frustrada por saber que meu parto estava longe de ter sido normal.
Já sabia os benefícios de um corte tardio de cordão, e o quão magnífica era minha placenta pra ser descartada assim no lixo.
Sabia também que se hidratar e se alimentar faz parte do trabalho de parto.
Ah! NÃO sou mãezinha não, viu!!?
Não teve enxoval lá dos steitis, nem quarto moderno com berço que embala sozinho, tampouco infinitos pacotes de fraldas descartáveis, um kit da D´Pano tá dando conta. Mamadeiras e chupetas não comprei nem pra remédio, peito é nosso aliado!
Dessa vez meu parto seria diferente! Então ficaram de lado todas as parafernálias que nos custam uma boa grana, e não damos conta de usar. Investimos no parto. Que transição importante é o nascimento, um mergulho no desconhecido, já nascemos guerreiros vencedores…
Estava tão tranquila quanto à gestação que até imaginava que fosse passar de 40 semanas. #sabedenada 🙂
Mesmo com aquelas fisgadas lá na parquinha, fazendo 528 xixis em um dia, mesmo com muita dor na lombar, eu estava radiante! Sentia meu corpo se preparando se abrindo…
Mas o grande dia ainda…
19/07 38sem+4d Acordo antes do amanhecer e tenho a sensação de estar molhada, ponho a mão e confirmo, como não havia excesso e nenhum incomodo durmo novamente.
Quando desperto vou ao banheiro, a bolsa rompeu. Suave liberava um líquido rosado, sorrio, conto para o marido mas não há pânico, rs… pode demorar ainda.
A vida segue, vou organizando a casa, vou até a cidade e encontro uma amiga que brinca: -Lúuu, tá chegando, né? ( não contei que minha bolsa havia rompido).
Já em casa almoçando, lembrei de avisar a equipe sobre a bolsa, Denise esperta que só ela manda as doulas para ficarem comigo, eu penso: nossa, que apressada kkkkk (gente, se fosse depender de mim ia é parir sozinha), pois achei que o TP ia demorar a engrenar. Até estávamos com uma visita da equipe agendada para o domingo, mas entrei antes em TP, rs.
As doulas chegam e eu estou no jardim tomando sol da tarde, penso: “oxee, que pressa” 😀
Passei o dia “vazando” sem sentir nada além das contrações que sempre me acompanharam. A tarde seguia gostosa, o sol já querendo se despedir, hora de acender nossa fogueira. Eu, claro, ajudei. Nesse clima gostoso chega o marido, logo depois minha parteira, e os pródomos começam a virar pequenas cólicas. Tranquilidade me definia…
Enquanto tomávamos um gostoso café da tarde, eu comi vários pães pois, dessa vez, nada de passar fome, ok?
Noto então que junto com a cóceguinha, digo, cólicazinha, sinto uma pressão na ppk, até brinquei: deixa a mãe comer primeiro vai! Denise já ficou desconfiada, quis fazer um toque que seria o primeiro de toda a gestação.
Fui para o quarto e antes liguei para minha filha, contei sobre a bolsa e ficamos conversando um pouco, lembro que ela pergunta: -mãe, você acha que nasce antes da meia noite? Eram 18:30 aproximadamente, eu disse que talvez ao amanhecer e que não era pra ficar ansiosa pois poderia demorar (inocente eu) kkkk.
Finalmente vou para o quarto e me deito para Denise me avaliar, na sala, marido e a doula Ana fazem um som gostoso com direito a tambor e violão. Doula Bruna vai cuidando da cozinha que agora era dela, rs.
*_* Denise me olha com uma expressão de quem não esperava o que foi constatado, eu apenas digo que não estou com pressa e achando que estava com tipo 3 cm de dilatação, ela me solta: -Amada você está com dilatação total!!!!
PROCESSANDO!!
REPITA!
– AMADA VOCÊ ESTÁ COM DILATAÇÃO TOTAL!
Meu cérebro não processou essa informação #confusa.
– Toca e vai sentir a cabecinha…
Toquei!!
Jeeesuuuiziiii!!!
Senti mesmo!
Como assim ocê já ta ae na porta??
Mas eu não tinti nada!
Que benção!!
Como assim?? Não era pra amanhã? Tá muito rápido, meu! #fichanaoquercair Tô parindo!? Isso mesmo produção???
Ela sai correndo para buscar seu super kit de nascer neném. Eu, ainda confusa pela rapidez com que as coisas estavam seguindo. Meu corpo inteiro vibrou e um misto de felicidade me invadiu, chorei de amor…. A ficha caiu! Sorria… Chorava…
Chegou a hora de conhecer o dono do pezão que tanto me chutou de um único lado durante toda a gestação, gente eu sabia que era um pezão kkk
Todos vêm para o quarto correndo. Era hora de começar trabaiá.
Bem, vamo trabaiá então né!? Kkkk
Expulsivo…
Minha play list já estava tocando durante toda tarde.
Instintivamente fui tirando a roupa, não houve tempo de encher a hidro, nem de ficar ganhando massagens de todas aquelas mãos presentes, nem de buscar mil posições, que me deixassem confortável, não deu tempo de chegar as 40 virgens doulas para me abanar. 😉
A famosa vontade de fazer cocô, o expulsivo, começou com força total! Doía! Eu vocalizava. Doía mais! Eu berrava, um berro que saia de minhas entranhas, e me fortalecia. Virei bicho. Achava que estava consciente mas vida loca é a partolândia, meu corpo sabia trabalhar, tive a percepção de cada mudança acontecendo, soube até quando ele encaixou.
Estava em sintonia com o universo. Em minha mente rodava um filme, eu honrava todas as minhas ancestrais que já haviam parido, me tornei todas elas… os pés literalmente fincados no chão do meu quarto, a cada contração uma força descomunal me puxava e eu ia me aterrando, me entregando, que loucura! Quando essas ondas se iam a gratidão me invadia, e eu desejava que minha filha também, quando chegasse seu momento parisse assim, com amor, desejava que todas as fêmeas desse universo parissem sem dor.
De cócoras sobre as pernas de meu companheiro, foi ideal. Muita força, muitas ondas, baby Love chegando, quase sai mas recua, eu sinto ele voltar, doideira. De frente pra mim aquelas mãos que tantas vidas já havia amparado apenas aguardava, me olhando nos olhos, serena, sem pressa… barulhos só eu fazia, doula Ana se virava na penumbra para conseguir registrar em imagens esse momento, doula Bruna me dava apoio moral e também água com mel na boca. Eu tinha muita sede.
– Aaaaiiii minha pepeka. Ouço risos… Nem me importo.
Quero ir ao banheiro! Sim no meio do expulsivo me levantei e fui ao banheiro fazer number *. Confesso que fiquei alerta pra ver quem ia sair primeiro kkk ainda consegui dar descarga e lavar as mãos, oiii?? Louca mesmo! Mas sempre fui. Próxima onda chega e eu grito, passa, sobrevivo e volto para a partôlandia e, novamente, fico de cócoras no colo do marido. Eis que em uma gigante força ele surge.
Assim de uma vez! Nem quis dar uma espiada. Foi na pressão!
NASCEU!!!
Eu renasci!!!
Uma nova mãe/ mulher. Só consigo pensar: uau, que gigante. Às 20h02, tudo tão rápido, como pode se uma hora atrás estávamos na cozinha lanchando? Naquele momento só havia nós dois. Nem me lembrei de ver o sexo, não me importava, não tinha pressa, nosso baby Love chegou.
Queria pra mim! Me dá! E aquele delicioso choro de quem respira pela primeira vez ecoa pela casa, logo cessa, sabe que não há o que temer. Então, seus olhinhos ávidos pela vida explora cada detalhe que alcança, nunca esquecerei aquele olhar… Veio pra mim, minha cria linda, limpinho… ah delícia de cheiro. Que emoção! Todos sorriam… A música que tocava era celta. Soube depois, rs.
Nos deitamos (chorando aqui só em lembrar). É um homenzinho, como eu sentia, uma energia poderosa de vida paira no ar… Tem amor! Eita que essa oxitocina é poderosa! Hormônio de amor né!? Tudo que me foi negado em meu primeiro parto, eu recebia. Naquele momento, me curei! Gratidão me definia!
Engraçado, a oxitocina sintética foi basicamente criada para acelerar o TP, que no meu caso durou em média 7 horas (primeiro parto). Dessa vez meu corpo teve toda liberdade para trabalhar e assim o fez infinitamente mais rápido. Não senti nenhuma dor na fase de dilatação.
O parto ainda não acabou! Estava agora nascendo a linda guerreira que nutriu nossa cria por todos esses meses #placentasualinda. Amo você! Chegou perfeita, eu a honrei em pensamento! Vai se transformar em tintura para nos curar, depois nutrir a linda roseira amarela, as raízes de então Arthur…
Ele nutrido que estava não quis saber de tetê, não tinha pressa, ficou no colinho da mamãe, calminho. Eu, sendo examinada, leve laceração, dois pontinhos resolveu, as cólicas me incomodavam, tremia, sentia muito frio.
Fui pro chuveiro que delicia! Banho quente e demorado, eu merecia! Já na cama, um caldinho gostoso para me nutrir. Tutu só foi querer saber de sua jantinha lá pela meia noite, e nasceu sabendo como fazer! Pega linda perfeita! E então recebeu o ouro liquido chamado colostro, que honra a minha te nutrir, meu filho!
No outro dia, os peitos já estavam fartos. Peitos fartos, filhos fortes, sonhos semeando um mundo real lálálala…#Marisa não resisti kkkkk
Meninas, compartilho meu relato para que de alguma forma possa ser auxílio para todas que ainda irão parir. Foi nos ensinado a temê-lo, nos enfiaram goela abaixo que parto é sujo, é morte, sofrimento. Mas eu, assim como tantas nessa vida, não sucumbi a esse sistema falido, pois acredito em meu corpo, a natureza é sabida sim.
Existe cansaço? Claro que sim! E muito. Mais vencemos, pois tudo passa, basta dar uma cafungadinha na cria esquecemos de tudo!
Amadas, sejam fortes e empoderadas, o conhecimento sempre nos liberta, não permitam que um momento tão particular e tão único seja roubado por “doutô” que visam apenas o lucro e nos tratam como mais um número.
Porque filhos sabem nascer e as fêmeas sabem parir para todo sempre…
The end
PS: BEIJO NO OMBRO PRO GO FOFÍNEO QUE EU ABANDONEI NO MEIO DA GESTAÇÃO.
Ele disse que meu baby Love seria PIG (pequeno para a idade gestacional), pois sou “vegetariana, magrela, não deveria privar meu filho assim”, Blá blá blá uyscas sachê. Mais ele nasceu um grandão com 52 cm pesando 2980gr com 38 semanas, imagina se passo das 40? Onde se escondeu eu não sei, pois não havia espaço na minha pancinha. Entendi, filho, porque você se antecipou!
Estuda doutô estuda.
Bem é isso! Abraços carinhosos, amoras.