O nascimento do Juan :: Por Patrícia Indaiá
Sábado, 9 de abril
Eu estava diferentemente cansada, meu corpo solicitava repouso e eu “não entendia o porquê…”. Nossa querida doula, Denise, nos telefonou no meio da tarde, e recomendou “então descanse, você vai precisar dessa energia depois…”. Dito e feito.
À noitinha, contra todas as perspectivas, resolvemos sair pra assistir ao show de um violeiro no teatro, estava tudo tranqüilo, exceto pela coceira na barriguinha, que persistia já fazia uns dez dias…
Domingo 10 de Abril, 6h da manhã
O nascer…de um lindo dia me desperta, e logo percebo também umas gotinhas tão esperadas correndo entre as pernas e eu sentindo também umas dorezinhas…hmm…será? Falei com o Ramiro, “ei tenho umas dores, e está molhado aqui”…Ele faz aquela cara…hmm…”será?”
Combinamos de esperar meia hora e então ligar pra Dê…Fui fazer xixi…”Ixi, tem umas listrinhas de sangue…Ramirooo…TEM SANGUE, LIGA AGORA!”
E já começamos a andar pelo quarto, apressadinhos, ajeitando as coisinhas…a Dê falou que já poderíamos ir pra Bauru, mesmo, e começar a contagem dos intervalos entre as contrações…
Engraçado, como na hora tudo fica muito sincronizado e simples…Gente, não precisa se apavorar! Trabalho de parto é natureza pura! Acho que nessa hora até lembrei, ou sei lá se estou lembrando só agora, duma conversa de chá de bebê, quando uma amiga falou assim: “Mas Paty, como assim, e se na hora vc ficar na dúvida, tipo:
-Ai, não sei se foram 30 segundos, se a dor começou um pouquinho antes ou agora mesmo…” Hahaha…na hora a gente sabe, pensei.
Bom…mas que fique claro que essa segurança toda não era unanimidade entre os moradores aqui de casa…Daqui a pouco aparece a D. Lília com a cabecinha na porta do quarto querendo que eu fosse pra Sta Casa de Ourinhos, “pra ver se está tudo bem, como é que vc vai viajar assim, e se o bebê for nascer?” “Ué, vamos viajar, o bebê vai nascer lá mesmo…”, dissemos e partimos.
Passamos pra comprar pãezinhos de queijo e carregar o celular. Estrada. Só sofria um pouco com os buracos no chão das ruas…”Ai, passa devagarzinho…”
Chegamos na Dê, umas 10h eu acho…E fui descansar…Pela nova contagem das contrações, o trabalho de parto ainda não estava em sua fase ativa…poderia comer um pouquinho, descansar mais, tirar uma soneca, ouvir a Kalinne cantar. E fiquei de boa, com um pouquinho mais de líquido escorrendo…
Lá pelas 13h fomos para o Hospital, encontrar a Mariele pra ela escutar os batimentos do coração do bebê…Já fomos preparados, a Dê pegou a piscininha inflável e tudo. Lá no hospital mesmo, o ritmo das contrações ficou mais regular e ficamos direto na sala de parto…exercícios na bola, cardiotoco, tudo bem com o coração do nenê, e em pouco tempo a dilatação já estava 7 cm. Vamos começar a encher a piscina, gente. Vamos. Acho que eu estava tranqüila, ainda, mas desde o pãozinho com manteiga na casa da Dê, não tinha comido mais nada e nem me apetecia comer…e assim fui…
Água quentinha caindo nas costas, massagens na lombar. Obrigada, gente. A certa altura decidi gritar, e foi aos poucos que fui me dando conta que tudo estava ficando mais forte. As dores ficavam menos difíceis quando eu segurava em uma barra e fazia força para baixo, no ritmo das contrações. O Ramiro comigo na banheirinha, me segurava. Sem conseguir comer, precisei sair da piscina e descansar deitada…Mas percebi que deitada não seria capaz de direcionar minha energia para o nascimento, além disso, as dores pioravam fora da água. Voltamos pra piscina.
Acho que daí em diante entrei mais em contato comigo, mais conexão, mais concentração. Sei dizer sobre dois momentos muito claros, que vivi. No primeiro, uma Patrícia que atuava amparada pelas forças brincantes, que descontraem (bem indicado pra quem ta passando por contrações fortíssimas, não? hauahuahaua), mas que guardava uma certa fragilidade em relação à segunda Patrícia, que foi evocada pelas palavras da Mariele, me convidando a buscar dentro de mim “toda a força de ser mãe”…Muito diferente, uma significativa mudança de ritmo para encarar os momentos finais do trabalho. E eis que quando essa mudança interna se promove, uma outra conexão se inicia, e na prática, pra mim, isso significou entrar em harmonia com os movimentos do Juan, querendo nascer, e passamos a atuar juntos…Daí ele nasceu… e eu o vi… tão lindo, tão cheiroso, tão finalmentevocêchegouteamotanto…
Queria deixar registrado aqui a importância do trabalho da doula, a Denise, buscadora do que era antigo, sábio, urgente e belo, sobre nascimentos. E mais, amiga de primeira! Uta!
E também dizer como a Dra Mariele foi inspirada pelos anjos ao escolher sua profissão. Excelente pessoa desempenhando humanamente seu trabalho. Que bom te encontrar!
E ao Ramiro dizer…que bonito tudo isso, meu companheiro…